As You Like It - Como Vos Aprouver

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AS YOU LIKE IT
COMO VOS APROUVER
de William Shakespeare tradução Fátima Vieira
dramaturgia Miguel Graça
encenação Carlos Avilez
cenografia | figurinos Fernando Alvarez
música original Tiago Machado
coreografia | movimento Natasha Tchitcherova
desenho de lutas David Chan
apoio vocal FF
direcção de montagem Manuel Amorim
contra-regra | montagem Rui Casares
desenho som surround | operação de som Hugo Neves Reis
assistência de ensaios | operação de luz Jorge Saraiva
assistência de encenação | bilheteiro Rodrigo Aleixo
assistência à contra-regra David Balbi
execução de figurinos Rosário Balbi
costura Fátima Ribeiro, Filomena Paulo, Helena Figueiredo, Luísa Nogueira, Marta Vieira
fotografias de cena Ricardo Rodrigues
registo vídeo MiguelÂngelo Audiovisuais
secretariado | comunicação Maria Marques
contabilidade Ana Landeiroto
manutenção de guarda-roupa Clarisse Ribeiro
assistência ao espectáculo Marisol Oliveira, Nádia Hanyeli 

interpretação Bárbara Branco, Francisco Côrte-Real, João de Brito, João Fialho, João Pecegueiro, João Santos, José Condessa, José Matos de Oliveira, Luiz Rizo, Maria Ana Filipe, Pedro Peças, Pedro Russo, Rafael Carvalho, Renato Godinho, Renato Pino, Ricardo Castro, Rita Sombreireiro, Ruy de Carvalho, Sérgio Silva, Teresa Côrte-Real e Tomás Alves

Não tenho conhecimento de algum tradutor português de As You Like It que tenha tido a irreverência de seguir a sugestão de George Bernard Shaw sobre a difícil interpretação desta difícil comédia de Shakespeare. Com a tónica no you, Shaw defendia que a peça é como "nós" (o público) gostamos: cheia de "bons" e "maus" (pessoas e lugares) quase infantis, de amores eternos nascidos apenas de um olhar e de redenções inexplicáveis motivadas por um encontro casual ou uma simples mudança de humor. O título é, aliás, motivo de discussão. Desde a Antiguidade que a regra era quase sempre cumprida: o nome do herói trágico anunciava uma tragédia (Rei Lear ou Hamlet), enquanto que o motivo do enredo determinava o título da comédia (Sonho de uma Noite de Verão ou Muito Barulho por Nada). Nesse sentido, parece que o desenrolar da acção é "como nós gostamos" ou então, no máximo, como sugere Harold Bloom, como Rosalinda gosta, uma vez que ela se apresenta como uma espécie de Próspero sem artes mágicas, manipulando os amores que vão nascendo e crescendo entre os vários pares de amantes. Mas se nos inclinarmos para a primeira hipótese, de que será, então, que nós gostamos, o que quereremos ver em cena para depois vermos na vida? Shakespeare, profundo conhecedor do ser humano, apresenta uma resposta muito clara a essa pergunta: gostamos sobretudo da vitória do Bem sobre o Mal - de finais felizes - e para isso é preciso que exista Amor (já agora, com muita tensão sexual) e não desamor. O problema é que se tudo fosse tão simples a nossa existência estaria rodeada de felicidade e, assim, a acção da peça termina antes da consumação dos casamentos e antes de todos (ou quase todos) abandonarem a Floresta de Arden - local imaginário, uma espécie de antigo Éden onde quase tudo é perfeito e a ausência de intrigas permite o desenrolar de todos estes amores - como se Shakespeare nos quisesse dizer que mesmo sendo a acção como nós gostamos (ou melhor, como nós gostaríamos que ela fosse), ela não corresponde à realidade.

Mas As You Like It não é, obviamente, apenas um lamento irónico de um autor que quer servir a vontade do público. O texto, que tem como principal tema o Amor, apresenta-o de diversas formas, por vezes até contraditórias, pondo em evidência a relação de Rosalinda/Ganimedes com Orlando e assim, a questão de género, mas que podemos alargar para credo, idade, cor da pele ou qualquer outro tipo de entraves que não sejam o da vontade própria, uma vez que o Amor - e essa parece ser a grande mensagem de Shakespeare (como de resto é bem sublinhado na encenação de Carlos Avilez) - é indiferente a essas diferenças.

Porém, no fim, no meio de toda a celebração amorosa, surge Jaques, o melancólico Jaques que prefere a solidão utópica de Arden ao regresso à realidade e, assim, ao mesmo tempo, a peça é mordaz e universalmente verdadeira porque é como todos nós gostamos, quer acreditemos ou não no triunfo do Amor.

Inserido na Capital Europeia da Juventude-Cascais 2018, o espectáculo As You Like It conta, como é habitual nas produções do TEC, com um elenco muito jovem. De assinalar que dos 21 actores e actrizes que estão em cena 15 formaram-se ou estão a formar-se na Escola Profissional de Teatro de Cascais.

Miguel Graça